PETRÓGLIFOS DO MÉDIO RIO IGUAÇU, BRASIL.

 

Johnni Langer. PhD in History for Universidade Federal do Paraná.

Sérgio Ferreira Santos specialist in History for the FAFI-UV.

E-mail: thor_odin7@hotmail.com

 

Summary: The article presents some conclusions on archaeological research in rupestre art effected in the region of the Average river Iguaçu, involving the center-south of the Paraná and center-north of Santa Catarina, Brazil.

 

O departamento de História da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória, FAFI, iniciou em março de 2001 um projeto de investigação arqueológica, procurando criar subsídios para a investigação criteriosa do passado pré-histórico. Sob a coordenação do historiador Johnni Langer e do geógrafo Sérgio Ferreira Santos, o projeto desenvolve pesquisas arqueológicas nas regiões delimitadas e circunvizinhas ao Médio Iguaçu — centro sul do Paraná e centro norte de Santa Catarina.

Foram identificadas cavernas e blocos em campo aberto com a presença de gravuras pré-históricas, imagens feitas diretamente na rocha com o auxílio de instrumentos pontiagudos. Trata-se de um encontro importante, se levarmos em conta sua rara ocorrência em outras regiões. No estado de Santa Catarina este tipo de achado só havia sido identificado em Lages e no litoral, enquanto que no Paraná somente mais três cidades apresentaram estes indícios.

A pesquisa pretende a partir da recuperação e interpretação dos elementos materiais, entender a pré-história e ocupação primitiva da região do médio Iguaçu. O funcionamento, as transformações e características das sociedades indígenas, a partir dos vestígios de cultura material que possam a ser recuperados: "buscando, a um só tempo, as relações causais na sucessão do tempo e a identificação de princípios sincrônicos de funcionamento das sociedades humanas." (Funari, 1988, p. 15).

 

 

Método de reprodução dos petróglifos

Para a reprodução das gravuras utilizou-se papel vegetal, fixados à superfície da caverna manualmente. As gravuras foram decalcadas com giz de cera fino, sendo o lápis utilizado no sentido horizontal. Com isso, o espaço dos sulcos não foi preenchido pela cera, originando uma reprodução em negativo dos petróglifos. Em alguns painéis do sítio Caverna do Alemão não foi possível a reprodução com esse método devido à extrema irregularidade das gravuras e das rochas da caverna, motivando a utilização de plástico em rolo e canetas hidrocolores. Para o sítio Morro das Tocas a equipe fez uso de uma técnica diferenciada, a utilização de massa de gesso, no qual após sua secagem poderá se efetuado novos decalques sobre o molde do petróglifo.

Em outros sítios petroglíficos não foi possível utilizar nenhum método de decalque, devido à extrema umidade em que se encontram os painéis, impossibilitando sua reprodução in natura, sendo por esse motivo empregado apenas fotografias e filmagens. Futuramente poderão ser aplicados métodos mais inovadores, como o decalque com tela de silicone flexível.

 

OS SÍTIOS PETROGLÍFICOS

A região do médio rio Iguaçu apresenta-se com um grande potencial arqueológico, originado pela existência de sítios em campo aberto e localizados também em cavernas e abrigos, além de casas subterrâneas.

Uma grande parcela destes resquícios, como materiais líticos e cerâmicos, são encontrados e recolhidos pelos moradores da região, ficando esquecidos sobre a propriedade de pessoas que tão somente tem o intuito de colecioná-los. É preciso esclarecer para a população em geral a importância de nosso patrimônio arqueológico, bem como as condições para a sua efetiva preservação e estudo sistemático por especialistas. Uma das possibilidades para isso é a informação e a educação por meio das instituições de ensino e de pesquisa (Funari, 2000a, p. 200), criando condições para que os principais destruidores sejam os responsáveis diretos pela preservação da cultura histórica.

 

Sítio Caverna do Alemão

Localizada na comunidade de Barra Grande, distrito de Santa Cruz do Timbó, município de Porto União (SC), na margem esquerda do rio Iguaçu, em um morro testemunho. A caverna possui 57 m de extensão, com largura máxima de 2,5 m, abertura frontal de 4 m. Na atualidade a entrada é parcialmente fechada por vegetação, fato que não ocorria há alguns anos, segundo os próprios moradores e registros antigos.

As paredes da caverna são bem secas, sendo irregulares e com muitas fissuras na entrada, na área que envolve os petróglifos. Uma grande quantidade de orifícios naturais de grande tamanho, com largura média variando de 4 cm até 20 cm e atingindo até 1 metro de profundidade. Estes orifícios cobrem as paredes da entrada, inclusive sobre a área das gravuras, sendo ocasionados por desagregação natural da rocha base, e outros por pássaros conhecidos na região como "Pedreiro" (Furnarius fisulus pileatus). O interior da caverna possui paredes bem regulares, mas também marcadas pela ocorrência das fissuras circulares, inclusive algumas apresentando o processo descrito anteriormente, que foi documentado.

Em pesquisas de prospecção superficial no interior da caverna, foi encontrado uma lâmina-de-machado confeccionada em basalto, com grossa camada de pátina envolvendo a superfície da peça, ocorrendo algumas marcas de picoteamento no bordo ativo. A peça apresenta alisamento e bordo ativo no sentido transversal e longitudinal direito, sendo a sua forma plano-convexa. Cortes experimentais em diversos pontos do interior do sítio não apresentaram nenhum outro tipo de material arqueológico, devido a pertubações caracterizadas por águas pluviais em grande quantidade que entram através de uma grande dolina na entrada sul da gruta.

A técnica de produção dos petróglifos foi a gravação por polimento, executado por um instrumento aguçado, que criou sulcos de linhas contínuas e depressões circulares, com bordas bem definidas. Nenhuma gravura apresenta restos de pintura.

Foram caracterizados três painéis, divididos pela distância entre si dentro da área da caverna. O primeiro, situado na entrada, é de grandes dimensões, também apresentando os maiores desenhos e sulcos. O segundo, no meio da caverna, é de pequenas dimensões e com desenhos bem delimitados. O terceiro localiza-se na saída da caverna. Não ocorrem figuras isoladas em outras regiões do sítio.

Devido as diferenças de estilos e motivos, além da posição geográfica na caverna e da sobreposição de gravuras, os petróglifos dos diferentes painéis podem ter sido obras de grupos culturais diferenciados, ou então, como resultado de uma mesma tradição em épocas diferentes.

Painel I

É o painel que possui maior quantidade de desenhos e tamanho (13m de comprimento), não tendo divisões ou aspectos de distinção entre si. Metade do painel encontra-se exposto à luz da entrada e está parcialmente coberto por musgos, enquanto que a outra metade está em boas condições de preservação e oculta pela falta de iluminação. Os sulcos apresentam uma profundidade média de 2cm e uma extensão máxima de 30cm. Em volta dos petróglifos existe uma linha demarcatória, uma espécie de grade retangular com grandes dimensões, envolvendo a maior parte do conjunto. Um intenso processo de erosão e esfoliação da supefície do arenito das paredes e teto ocorre na parte visível do painel, dificultando o estudo e reprodução dos desenhos indígenas.

PETRîGLIFOS DO PAINEL I, SêTIO CAVERNA DO ALEMÌO (PORTO UNIÌO, SC).

 

Na composição geral, não foram observadas figuras centrais ou centralizadoras. Os motivos predominantes são grandes linhas verticais, simétricas e paralelas.

Painel II

Este painel possui muitas diferenças em relação ao primeiro. Além da localização, exatamente no teto da caverna e aproximadamente em seu centro, o tamanho das figuras é bem menor, com acabamento mais preciso e contornos bem nítidos. A profundidade média das figuras também é bem menor, em torno de 0,2cm. Os motivos predominantes são figuras em forma de "escadas", linhas paralelas que são cortadas por pequenos traços. Existem três conjuntos bem distintos dentro do painel, o primeiro com quatro gravuras de escadas, três paralelas e uma em sentido horizontal ao conjunto. O segundo com seis figuras, cinco em posição paralela e vertical, e uma em sentido horizontal ao conjunto, com a ocorrência de três pequenas figuras de forma simples, duas linhas paralelas sem gradeamento (bastões). O terceiro conjunto encontra-se separado dos demais na parede esquerda da caverna, quase ao nível do solo. Consiste de uma linha horizontal ordenada de 27 pequenos orifícios circulares com 1,37m de comprimento, todos com o mesmo padrão de tamanho (2cm) e profundidade (1,5cm).

PETRîGLIFO DO PAINEL II, SêTIO CAVERNA DO ALEMÌO (PORTO UNIÌO, SC).

 

Após os dois primeiros estudos no local, em junho de 2001, foram registrados recentes "grafittis" próximo ao segundo painel, sendo que os vândalos tentaram intencionalmente reproduzir as figuras, que até o momento encontram-se bem preservadas.

Painel III

Localizado na saída da caverna, na parede esquerda bem próximo ao solo. O motivo principal é uma série de pequenas depressões circulares (cupuliformes), formando sequências paralelas horizontalmente. Ocorrem em grande quantidade, formando grupos distintos e em associação com sulcos verticais.

O primeiro conjunto é um agrupamento circular de sete depressões, reunidas em torno de uma concavidade com maior tamanho. O conjunto ocupa uma média de 7cm de tamanho.

O segundo conjunto possui 57 depressões ciculares, formando um grande linha horizontal com 1,70m de comprimento. As extremidades são formadas por pequenos conjuntos verticais. A extremidade direita foi executada sobre petróglifos com motivos de escada-grade, esta ocupando uma linha horizontal de 1m de comprimento e 10cm de largura. Pelas características desgastadas da grade, pela sobreposição abrupta da linha de depressões e pela diferença estilístico-temática, pode-se afirmar que estes dois conjuntos foram executados em épocas distintas.

O quarto conjunto é formado por uma escada-grade horizontal de 94cm de comprimento e média de 6cm de largura e 16 linhas verticais-transversais, executada no teto, próximo à saída da caverna. Na extremidade da parede esquerda, ocorre o quinto e último conjunto, com uma escada-grade de 25cm de comprimento e 7cm de largura, ao lado de duas pequenas linhas paralelas (bastões interligados).

 

Sítio Morro das Tocas

Situado na cidade de União da Vitória (PR), na região do rio do Meio. Consiste em 19 grutas areníticas, algumas apresentando interligações, todas alinhadas lateralmente sendo diferenciadas apenas pela profundidade, largura e alturas das mesmas. A gruta Morro das Tocas encontra-se formada no arenito da formação Botucatu, representado por uma série bem definida de arenitos avermelhados finos, médios e grossos que se apresentam regularmente selecionados dentro de uma estratificação cruzada acanalada, indicando características litológicas e sedimentares de um paleoambiente eólico desértico.

A gruta encontra-se orientada para o sentido geográfico norte, tendo sua altura máxima expressada entre 2,5m no limite do teto externo, e para o interior o limite torna-se cerca de 1,80m de altura máxima tornando-se exígua devido ao rebaixamento do teto. A área protegida do sítio compreende 4m de comprimento por 10m de largura, e está localizada cerca de 30m acima do fundo do vale.

Conta-nos o atual proprietário do terreno onde se encontra a gruta, que entre os anos de 1985 e 1986, húngaros estiveram escavando o local com uma máquina que, segundo ele, continha três pernas com um prato giratório no centro, que quando parava de rodear, no local era escavado e retirado o material. Duas são nossas hipóteses: ou eram caçadores de tesouros munidos de um detector de metal, ou eram pesquisadores estrangeiros com maquinário de tipo teodolito estaquiométrico. Em consequência disso, o solo encontra-se revolvido em grande parte, deixando em alguns lugares a camada arqueológica visível.

Os petróglifos

Este tipo de manifestação foi encontrado num único conjunto em uma única gruta que se encontra no lado esquerdo da gruta principal. O petróglifo está situado entre 0,5 a 1,25 m acima do solo, na parede do lado direito da gruta.

Partindo do interior para o exterior, o único petróglifo a se apresentar tem a forma de um triângulo invertido com um traço que parte do ângulo mais fechado em direção ao centro do triângulo, terminando em uma pequena depressão em forma de círculo. Os lados do triângulo tem como medidas 18X19X16cm, sendo o traço interno de 7cm de comprimento com a perfuração de 1,5cm de largura por 1cm de profundidade.

O processo de confecção do petróglifo foi o alisamento, deixando sulcos que variam de 0,2cm até 0,5cm de profundidade, deixando transparecer que foram efetuados por instrumentos pontiagudos de pequena dimensão. No interior dos sulcos e da gravura não foram constatados restos de pintura. Ao lado desta figura ocorrem grafites e riscos de assinatura modernos. Anteriormente, já haviamos identificado um petróglifo isolado também em forma de triângulo invertido — porém sem barra interna — em uma caverna de Barra Grande (Porto União, SC).

 

Sítio Pedra Fincada

Localizado na cidade de Cruz Machado (PR). O sítio caracteriza-se por uma grande variedade de vestígios pré-históricos e históricos, principalmente indícios de arte rupestre. Os habitantes locais perpetuam diversos folclores a respeito destas inscrições, interpretadas como mapas feitos pelos antigos jesuítas ou sinalizações de antigos tesouros. Muitos painéis foram destruídos pela ação de vândalos, atraídos por essa notícias espetaculares.

Os principais conjuntos petroglíficos identificados foram:

Conjunto I

O primeiro conjunto de petróglifos está localizado em pequenos blocos de basalto, logo na entrada da fazenda. Os desenhos foram realizados por polimento e representam círculos, com tamanho médio de 25cm de extensão.

Conjunto II

O principal bloco com petróglifo está situado isoladamente, a poucos metros de distância do primeiro conjunto. Apresenta em sua superfície exposta frontal dois petróglifos, ocupando uma área de 60cm de comprimento. A primeira gravura é um círculo na parte superior, e na extremidade inferior uma linha sinoidal.

 

PETRîGLIFOS DO CONJUNTO II, SêTIO PEDRA FINCADA (CRUZ MACHADO, PR).

 

Conjunto III

Pequeno bloco com uma gravação em baixo-relevo, a única encontrada com essa técnica em toda a região do Médio Iguaçu, até o presente momento. Representa um círculo, com o ângulo lateral esquerdo incompleto.

Conjunto IV

Trata-se de um bloco com grafismos históricos, possivelmente elaborado por exploradores, viajantes ou tropeiros. O primeiro desenho esculpido é a data de 1798, com o número 1 possuindo uma extremidade curva descendo para baixo da data. O número 7 é formado pelo cruzamento de duas linhas horizontais de tamanhos diferentes com uma linha vertical, semelhante as denominadas cruzes eslavas ou de Lorena. Logo ao lado da data, observa-se uma grossa linha curva ao lado de um retângulo com área polida, não figurativa e sem possibilidades de interpretação de seu significado. Levando-se em conta que somente a partir do século XIX o sul do Paraná foi povoado e colonizado, este bloco constitui um importante marco histórico da região, possivelmente o mais antigo ainda existente. No momento de sua descoberta, o painel com as inscrições estava bem conservado, mas passados alguns meses foram registrados grafites de datação moderna, pondo em risco a conservação deste vestígio colonial.

 

CONCLUSÃO: TIPOLOGIA E PADRÕES COMPARATIVOS DOS SÍTIOS PETROGLÍFICOS

Todos os petróglifos por nós identificados no Médio Iguaçu e também os estudados anteriormente por Chmyz (1968, 1969), no Baixo Iguaçu por Parellada (1999), e os de Ivaiporã (PR) (Michelle, 2001), podem ser enquadrados na tradição rupestre conhecida como Tradição Geométrica, dentro dos padrões propostos por André Prous (1992, p. 515).

 

TEMçTICA DA ARTE RUPESTRE DO MƒDIO IGUA‚U A: Linhas simples, bipartidas e tripartidas. B: Bastonetes bifurcados e paralelos. C: Escadas. D: Pontos. E: Linhas onduladas. F: C’rculos. G: Grades. H: Tri‰ngulos.

 

Essa tradição é genéricamente agrupada em conjuntos que vão do Rio Grande do Sul até o Nordeste, e caracteriza-se principalmente pela existência de gravuras geométricas, praticamente inexistindo representações figurativas (Prous, 1992, p. 515). Dentro da tradição Geométrica, este autor ainda concebe duas subdivisões, chamadas de Setentrional e Meridional, esta última para as regiões de São Paulo à Rio Grande do Sul.

Através de estudos crono-estilísticos e temático-estilísticos, podemos supor que a arte rupestre do Médio Iguaçu até o presente momento, conheceu cinco subtradições, classes ou cinco unidades estilísticas.

A primeira é denominada unidade estilística Pegadas, relacionada com o sítio petroglífico denominado PRUV5, Vargem Grande, localizado na cidade de Paulo Frontin (Chmyz, 1968). Consistem de gravuras situadas em um bloco de campo aberto, com pequena extensão e pouca profundidade. Alguns motivos são semelhantes aos do sítio Caverna do Alemão, mas o conjunto apresenta-se de forma desorganizada, sem alinhamentos ou paralelismos. O sítio foi associado com a tradição ceramista Casa de Pedra (Chmyz, 1968, p. 62). As denominadas "pegadas", geometrismos lembrando rastos de aves, animais e pés humanos, são comuns em São Paulo e Rio Grande do Sul, muitas vezes associadas temática e culturalmente ao estilo de Pisadas da Argentina (Schmitz & Brochado, 1982, p. 42-44).

A segunda denominamos Triângulo, devido ao petróglifo isolado que encontramos no sítio Morro das Tocas. Associado à fase Iguaçu, é um tema muito comum em outras regiões que ocorrem geometrismos, como em Urubici (SC) e em diversos sítios do Rio Grande do Sul. Os triângulos invertidos estão morfologicamente aparentados muitas vezes com o motivos tridáctilos, as pegadas, como no sítio Coronel Ponce, em Mato Grosso (Prous, 1992, p. 517). André Prous aponta para uma possível correlação entre a tradição Geométrica com a Meridional, pela ampla utilização do triângulo com barra interna. Pela escassez desta figura na arte rupestre do Médio Iguaçu, ainda não se pode fazer maiores convergências.

A terceira, quarta e quinta unidades estilísticas são encontradas em um mesmo sítio, a Caverna do Alemão. A terceira pode ser a mais antiga neste local, na qual denominamos de unidade Grades, possuindo grande tamanho, e grande profundidade de gravação. Apresenta semelhanças com sinalizações rupestres descobertas em Ivaiporã (PR), pela equipe do CEPA da UFPR (Michelle, 2001, p. 14). É um tema muito comum nos petróglifos do Morro do Avencal, em Urubici (SC), no qual predomina totalmente em alguns conjuntos (Rohr, 1971), também aparecendo esporadicamente no centro do Rio Grande do Sul (Schmitz & Brochado, 1982). Do mesmo modo torna-se comum na tradição Planalto do rio Iapó e Tibagi (PR), Mato Grosso e Minas Gerais, mas nesses três casos tratam-se de pinturas.

A quarta unidade é a Escadas, que ocupa grande parte do sítio Caverna do Alemão, mas é um tema escasso em outras regiões como Urubici, litoral de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e interior do Paraná.

A unidade estilística círculos é a mais ampla. Ocorre praticamente em toda a região do sul paranaense. No Baixo Iguaçu, foi associada à tradição ceramista Itararé e ocorre em grande quantidade (Parellada, 1999, p. 5), sendo composta por círculos simples, círculos concêntricos e depressões cupuliformes (pontos gravados). No Médio Iguaçu, região de Cruz Machado, predominam os círculos simples. Em União da Vitória, no abrigo sob-rocha chamado Bruacas, ocorrem grupos de pontos gravados com 2cm de diâmetro, formando alinhamentos paralelos, e associados culturalmente com a tradição Itararé (Chmyz, 1969). Também no Médio Iguaçu, sítio Caverna do Alemão, a unidade estilística Círculos tornou-se intrusiva, tendo sido realizada sobreposta à unidade Escadas, com alinhamentos de depressões circulares em grande quantidade. É possível que neste sítio a unidade Círculos tenha sido o estilo mais tardio, realizado pelo mesmo grupo cultural que criou a unidade Escadas, ou que tenha sido executado por grupos externos e posteriores. O primeiro conjunto do painel III do sítio Caverna do Alemão (SC), apresenta enorme semelhança de técnica e temática com um conjunto de Boa Esperança do Iguaçu (PR), região do Baixo Iguaçu (Afonso, 2000): em ambos, ocorre um agrupamento circular de sete pontos em torno de um ponto de maior tamanho. Outra semelhança morfológica, porém menos análoga em termos estilísticos, ocorre com pinturas rupestres circulares de Piraí do Sul (Afonso, 2000).

No quadro geral crono-estilístico da arte rupestre do Médio Iguaçu, a relação entre as unidades estilísticas ainda não é totalmente clara, sem uma vinculação cronológica entre as figuras da tradição Geométrica e um entendimento mais profundo das variações e mudanças temáticas entre os sítios. No futuro, esperamos esclarecer melhor as relações estruturais que existem nos petróglifos da região. Quanto ao aspecto de sentido dos grafismos, o único conjunto que recebeu alguma interpretação foi o sítio PRUV5, mas sempre limitado à uma identificação de caráter semi-figurativo (Chmyz, 1968, p. 56-57). Atualmente alguns trabalhos retomam a perspectiva de uma explicação para a arte rupestre e sua conotações culturais. Acreditamos que esta possibilidade é muito promissora, seja ao relacionar os grafismos a necessidades coletivas expressas pelo cerimonial (Pacheco & Albuquerque, 1999; Cano, 2001), como ao comparar conteúdos mitológicos entre os petróglifos (Rangel, 1991; Santoni, 2000). Além de prosseguirmos com os trabalhos enfatizando a recuperação da cultura material, iniciaremos um estudo de etnoarqueologia, procurando resgatar as concepções da mitologia e religião dos indígenas da época de contato e da atualidade.

 

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Cómo citar este artículo:LANGE, Johnni y FERREIRA S.,Sérgio. "PETRÓGLIFOS DO MÉDIO RIO IGUAÇU, BRASIL.". En Rupestre/web, https://rupestreweb.tripod.com/iguazu.html

 

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